domingo, 28 de agosto de 2011

A União dos Opostos


A maior realização da vida é a integração dos opostos. Foi essa a conclusão do Psicólogo Suíço, Carl Gustav Jung, amigo e colaborador de Freud durante muitos anos e que depois rompeu com a Psicanálise e criou sua própria escola, a Psicologia Analítica.
Com o passar dos anos e de sua extensa obra, Jung foi ficando cada vez mais fascinado pela questão dos opostos que habitam a vida e o interior do Ser Humano.  Em seus estudos de mitologia, religiões orientais e de alquimia, Jung percebeu que desde a antiguidade, a busca espiritual e a realização do Ser Humano passavam de alguma forma, por uma integração de opostos.
Por integração, entende-se reunir o que antes estava dividido, separado em opostos, em metades e os tornar inteiros, harmoniosos, completos, íntegros.  Claro que, antes de integrarmos, é preciso inicialmente reconhecer ou tomar consciência de que existem forças ou tendências opostas em nossa personalidade, em nossa consciência e em nosso Inconsciente.
É preciso primeiramente reconhecer que temos igualmente, a capacidade de praticarmos a bondade e a maldade, de andarmos na luz e na sombra, de sentirmos amor, de sentirmos ódio, que dentro de cada homem existe um aspecto feminino e que em cada mulher existe um aspecto masculino, que temos anseios que são da ordem do espiritual e outros que são da ordem do animal, do instintivo, do carnal. Que somos morais e amorais ao mesmo tempo.
Reconhecendo, ou melhor, compreendendo que esses opostos fazem parte de nós, que não somos uma ou outra tendência, que somos ambas e que ambas são inseparáveis, entramos em uma segunda etapa, que é passar a não lutar contra um oposto e defender o outro. Aceitar, acolher e compreender tudo o que se manifesta em nós é a chave para essa integração. Lutar contra um lado nosso, como se não fizesse parte de nós, como algo estranho que deve ser retirado é nos dividir mais ainda, é nos separar de nós mesmos e toda luta causa tensão.
Platão, em seu mito do andrógino, no Banquete, nos conta a história de que há muito tempo atrás, havia além dos homens e mulheres, uma raça de seres que eram homens e mulheres ao mesmo tempo, eram redondos, possuíam quatro braços e quatro pernas e eram extraordinariamente fortes e poderosos. Um dia decidiram se igualar aos Deuses e subiram o Olimpo. Zeus percebendo isso decidiu punir os andróginos e os cortou em duas metades, a partir dai passaram a desejar suas metades e a sofrerem com a falta. Este mito aponta para a direção de que viemos de algo completo, inteiro e sentimos saudade desta inteireza. Em outras palavras, o desejo é o desejo por completude, por reunir os opostos e sermos inteiros.
A terapia Junguiana tem um olhar especial sobre a inteireza do Ser, sobre a completude que se esconde por detrás da aparente confusão, da aparente divisão que se abate sobre nós. Podemos dizer que neurose é divisão, é ser fragmentado  e que o processo de individuação, tal como posto por Jung é ser, como o nome diz, indivisível, o indivíduo é aquele que não é divisível, por ser inteiro, íntegro e assim realizado e pleno em suas escolhas.